
Por todo o lado já se vê festas e romarias, isto apesar do verão andar um pouco enganador.
Na sexta-feira, por exemplo,comemora-se o Santo António (dia de aniversário do meu filho mais velho), sendo por isso feriado em Lisboa e dia dedicado ao santo casamenteiro.
Manda então a tradição, que o manjerico se tem de comprar, os noivos casar, os foliões marchar e comer sardinhas e pimentos assados e nem o caldo verde e broa, nesse dia pode faltar.
Pois aqui fica a minha simples mas deliciosa sugestão com a bela da sardinha assada para esse dia festejar e aproveito vou também levá-las para o passatempo – Olha ó peixe fresquinho! do Blog da Marisa o “Sweet my Kitchen”.
No fim deixo-vos com um belo poema de Augusto Gil sobre o Santo António, de que gosto particularmente.
Sardinhas a granel congeladas da Lusomar
2 pimentos grandes
Sumo de Limão
Azeite q.b
Sal
Fatias de pão torrado (usei de pão alentejano)
Colocar as sardinhas a descongelar uma hora antes.
Temperar depois com sal, regar com um fio de azeite e colocar na grelha que deve estar bem quente.
Asse também os pimentos, pele-os e desfie e tempere de sal, azeite e vinagre ou sumo de limão.
Sirva a sardinha assada no pão torrado e untado de azeite e com os pimentos assados em volta.
O passeio de Santo António
Saíra Santo António do convento
A dar o seu passeio costumado
E a decorar, num tom rezado e lento,
Um cândido sermão sobre o pecado.
Andando, andando sempre, repetia
O divino sermão piedoso e brando
E nem notou que a tarde esmorecia
Que vinha a noite plácida baixando…
E andando, andando, viu-se num outeiro,
Com árvores e casas espalhadas,
Que ficava distante do mosteiro
Uma légua das fartas, das puxadas.
Surpreendido por se ver tão longe
E fraco por haver andado tanto,
Sentou-se a descansar o bom do monge,
Com a resignação de quem é santo…
O luar, um luar claríssimo nasceu.
Num raio dessa linda claridade,
O Menino Jesus baixou do céu,
Pôs-se a brincar com o capuz do frade.
Perto, uma bica de água murmurante
Juntava o seu murmúrio ao dos pinhais.
Os rouxinóis ouviam-se distante.
O luar, mais alto, iluminava mais.
De braço dado, para a fonte, vinha
Um par de noivos todo satisfeito.
Ela trazia ao ombro a cantarinha,
Ele trazia… o coração no peito.
Sem suspeitarem de que alguém os visse,
Trocaram beijos ao luar tranquilo.
O Menino, porém ouviu e disse:
— Ó frei António, o que foi aquilo?…
O santo, erguendo a manga de burel
Para tapar o noivo e a namorada,
Mentiu numa voz doce como o mel:
— Não sei que fosse. Eu cá não ouvi nada…
Uma risada límpida, sonora,
Vibrou em notas de oiro no caminho.
— Ouviste, Frei António? Ouviste agora?
— Ouvi, Senhor, ouvi. É um passarinho.
— Tu não estás com a cabeça boa…
Um passarinho a cantar assim!…
E o pobre Santo António de Lisboa
Calou-se embaraçado, mas por fim,
Corado como as vestes dos cardeais,
Achou esta saída redentora:
— Se o Menino Jesus pergunta mais, …
Queixo-me à sua mãe, Nossa Senhora!
Voltando-lhe a carinha contra a luz
E contra aquele amor sem casamento,
Pegou-lhe ao colo e acrescentou:
― Jesus, São horas…
E abalaram pró convento.
* Augusto Gil, in Luar de Janeiro